O que é o 'Coaching'?
por
Miguel Pina e Cunha
Director de MBA da Universidade Nova de
Lisboa24
Março 2006
O Coaching
corresponde a uma buzzword recente no domínio da liderança. A sua prática, no
entanto, é antiga. Corresponde a actuações do líder norteadas por um valor
supremo: ajudar os outros a trilharem o seu próprio caminho de
autodesenvolvimento. Estamos, portanto, perante um entendimento da liderança
baseado numa relação "adulto-adulto". Já não é ao líder que compete
descobrir o que é melhor para os subordinados - isso é algo que compete a cada
um deles. Cabe-lhe ajudar cada colaborador a descobrir a forma de expressar
melhor os seus talentos. Dois significados do termo Coaching ajudam a compreender a sua aplicação ao mundo das
organizações: por um lado, Coach é o
treinador, aquele que ajuda os seus pupilos a desenvolverem as suas
capacidades. Por outro, é um meio de transporte, o que explica o processo de
autodesenvolvimento como uma viagem de descoberta e melhoria.
O Coaching
pode ser tomado como um processo que visa fomentar no colaborador o
conhecimento de si mesmo e impulsionar o desejo de melhorar ao longo do tempo,
bem como a orientação necessária para que a mudança se produza.
Trata-se, portanto, de uma filosofia de liderança que
assenta na ideia de que o desenvolvimento e a aquisição de competências são
processos contínuos e da responsabilidade de todos, e não apenas episódios
limitados no tempo e espoletados pela hierarquia. A lógica do Coaching tende pois a ser privilegiada
nas organizações genuinamente aprendentes, nas quais a responsabilidade pelo
desenvolvimento é pessoal, embora apoiada e enquadrada pela organização.
Como actua, na prática, um Coach na relação com o seu colaborador? Múltiplas acções podem ser
consideradas:
·
Ajuda-o a
aprender - mais do que ensina;
·
Ajuda-o a
descortinar as áreas em que o seu potencial de desenvolvimento é maior;
·
Ajuda-o a
desenvolver a sua inteligência emocional;
·
Ajuda-o a
fazer opções, a descortinar e a definir as suas metas;
·
Ajuda-o a
analisar os erros, as suas raízes e os modos de ultrapassá-los;
·
Coloca-se ao
serviço - não controla;
·
Faculta-lhe
as pistas que lhe permitam superar-se a si próprio;
·
Faculta-lhe
guias de actuação, informações e pistas que lhe permitam optar e decidir;
·
Faz-lhe
crítica construtiva, fornece-lhe feedback;
·
Gera-lhe
orgulho nas realizações e reconhece-lhe o mérito;
·
Impele-o a
aproveitar todo o seu potencial;
·
Inspira
confiança, monitoriza o seu desempenho, motiva-o, não lhe impõe soluções, não
julga, reconhece a independência e a autonomia do colaborador;
·
É competente
e empenhado;
·
É prudente;
·
Respeita-o e
é sincero na relação;
·
Transmite-lhe
desafios concretizáveis, assim como sentimentos de segurança;
·
Revela
abertura de espírito;
·
E é paciente
- mas sem perder o norte na pro-actividade.
Em suma, o Coaching
refere-se a uma categoria de comportamentos assentes num claro conjunto de
valores, nomeadamente: autodesenvolvimento, respeito, autonomia. A sua popularidade
"explode", não por acaso, num momento em que os elevados níveis de
educação dos profissionais tornam desaconselhados os modelos tradicionais de
chefia, nos quais um mandava e outro obedecia. O Coaching é, nesta perspectiva, mais um sintoma da grande mudança em
curso no mundo das empresas que têm no conhecimento o seu recurso principal:
organizações complexas com pessoas simples vão dando lugar a organizações
simples com pessoas complexas - e capazes de apostar no seu próprio
desenvolvimento, com o apoio da organização onde trabalham, para bem do seu
emprego actual e da sua empregabilidade futura.
Para desenvolver o assunto:
Rego, Cunha, Oliveira e Marcelino (2004). Coaching
para Executivos. Lisboa: Escolar Editora.
Sem comentários:
Enviar um comentário